segunda-feira, 30 de março de 2015

Literatura: Tempos poéticos...


O tempo não comprou passagem de volta. [Mário Lago]

No início da década de 1990, escrevi um poema batizado Se tempo houver e o dediquei a Rita, companheira de 26 anos. Durante anos, mantive-o guardado. Um dia, não me lembro em que contexto, tomei coragem e li a obra-prima para a musa inspiradora. Ela ouviu, sorriu e, bem de acordo com o seu estilo prático, deixou escapar nas entrelinhas que não teria muita paciência para esperar “tanto tempo”, não...

-  Nada poético, pensei.

Cerca de uma década depois, exatamente no dia dos namorados de 2013, ela me deu um cartão em cujo envelope havia uma folha de papel cuidadosamente dobrada; nela, um texto manuscrito intitulado Sempre e enquanto há tempo...

- O lado poético até então adormecido havia, enfim, aflorado!, pensei, com um leve e sutil sentimento de doce vingança (rs).

Deixando de lado a timidez, resolvi abrir o baú e publicar esses fatos da "intimidade" do casal. O primeiro texto é integral, o segundo, para não correr riscos domésticos, apenas fragmento. 

[Detalhe: Rita ainda não sabe desta brilhante iniciativa e, quando souber, não sei se receberei outro poema.. rsrsr).

"Colherei rosas – talvez cravos ou jasmins..."

Se tempo houver...
(para Rita)

Se houver tempo descerei ao jardim,
Colherei rosas – talvez cravos ou jasmins,
Arrumá-las-ei num buquê bonito
E o guardarei, impaciente.

Se houver tempo,
Regarei as flores que restarem,
Replantarei as mudas incipientes,
Podarei as árvores frondejantes,
Os brotos abundantes
E a aguardarei aqui.

Se houver tempo
Descerrarei a casa toda,
Sentarei em nosso canto
E extasiado pelo encanto do instante da espera,
Farei um poema simples
Dedicado a você.

Ah!, e se ainda houver tempo,
Apenas sonharei.
E mesmo acordado
Replantarei o passado
E mondarei o que de errado deixei florescer.

E, se depois de tudo,
Tempo ainda houver,
Mesmo que as flores não
Tenham crescido,
Relembrarei as promessas de amor e de sonhos
Que no envolvimento das pressas
- por falta de tempo! –
Havia esquecido.

[Paulo R Rezende]

"Para o amor não é necessário buquê..."

[Fragmento] 
“Sempre e enquanto há tempo
(Para Paulo)

Sempre há tempo de descer ao jardim, colher rosas...
Talvez cravos ou jasmins.
- Para o amor não é necessário buquê, pois ele é impaciente.

Sempre tem de haver tempo dentro dessa impaciência,
Para regar as flores, cuidar das mudas.
Podar as árvores frondejantes e os botões abundantes.
- Sem pressa.

Ainda é cedo para a espera de descerrar toda a casa,
Sentar em algum canto e me sentir extasiada
Pelo encanto da espera.
E na minha impaciência, talvez consiga fazer uma poesia simples... 
- Toda, porém, dedicada a você. (...)”

[Rita de Cássia Z P Rezende]

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